Paulo Martins )*
Aminatu Haidar apelou a Portugal para que faça alguma coisa pela causa sarauí, agora que vai sentar-se no Conselho de Segurança. Aminatu lembrou Timor. Vai Portugal lembrar-se do Saara Ocidental?
Anda o primeiro-ministro israelita de visita aos Estados Unidos e o seu Governo anuncia a retoma da construção de colonatos. Chovem críticas. Tropas marroquinas varrem um acampamento sarauí, deixando um rasto de sangue. Não há quem condene - a Comissão Europeia lá exprime, pouco convicta, "preocupação" com a violência. Duas colónias do século XXI - Palestina e Saara Ocidental - são tratadas de maneira diferente pela chamada "comunidade internacional". Não que se extraia daí a mais ténue hipótese de que a sua sorte mude...
Os colonatos sempre foram uma pedra no sapato do conflito no Médio Oriente. Por eles se afere a genuína vontade das autoridades israelitas de chegarem a um acordo de paz, porque ninguém acredita que seja alcançada continuando a ocupar terra alheia. O Governo de Netanyahu jogou o jogo de Obama, fingindo aceitar a solução proposta, aliás única, de dois estados convivendo em boa vizinhança. Acabar com o congelamento das construções, precisamente neste momento, só pode, portanto, ter uma leitura: trata-se de demonstrar ao presidente norte-americano que neste confronto uma das equipas se sente habilitada a retirar-lhe a condição de árbitro. O processo de paz volta, pela enésima vez, à estaca zero. Os fundamentalismos das duas partes ganham mais pasto para se alimentarem.
O Saara Ocidental também tem um muro, como o que separa Israel dos territórios ocupados, construído por Marrocos para explorar minérios. Os sarauís têm a seu favor, como os palestianianos, resoluções da ONU. Não têm é manchetes - apenas, de vez em quando, notas de rodapé.
Marrocos pode assim, longe de olhares indiscretos e com o silêncio cúmplice dos parceiros comerciais europeus, ir abafando na ponta da baioneta a ânsia de autodeterminação de um povo, que até criou a República Árabe Sarauí Democrática, reconhecida por dezenas de países, mas ainda aguarda a realização do referendo que a ONU decidiu há quase 20 anos.
Aminatu Haidar, a mais conhecida activista da causa, apelou a Portugal para que faça alguma coisa por ela, agora que vai sentar-se no Conselho de Segurança. Aminatu lembrou Timor. Vai Portugal lembrar-se do Saara Ocidental?
)* Opinião - JN
Sem comentários:
Enviar um comentário