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Proclamação da RENETIL 20 de Junho de 1988
RESISTENCIA NACIONAL DOS ESTUDANTES DE TIMOR LESTE
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20 Junho 1988
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“Renetil bagi saya bukan sekedar organisai, tapi dia adalah sebuah komitment, dia adalah sebuah senar" - HILMAR FARID (Gerakan Solidaritas untuk Timor).
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domingo, 15 de novembro de 2009

Memória da ocupação de Embaixada US em Jakarta 1994 (1)

Publicado por Zito Soares
Levantei muito cedo, eram 6 de manha do dia 11 de Novembro de 1994. Eu era estudante em Malang. Tinha 14.000 no bolso. Fui ao Wartel (casa dos telefones), telefonar a família em Timor e informar-lhes de que ia naquele dia a Jakarta para um jogo amizade de futebol com os meus conterrâneos.

Trazia a minha pequena moçila com escova e pasta de dentes, um par de meias e uma camisola. Entreguei a chave de quarto ao meu colega e diz-lhe que, "se depois de 5 dias eu não voltar devo estar preso algures em Jakarta". Fui apanhar microlet "G" em direcção a estação Arjosari. Lá econtrei outros colegas. Apanhamos autocarro em direcção a Joyoboyo, em Surabaya. De la seguimos para para a estação de comboio Gubeng (Não estou certo do nome das duas estações. Na estação reparei que os estudantes provenientes de Malang eram mais de 25, de Bali menos de 10 assim com os de Surabaya e de Jember. No meio de percurso juntaram mais os de Yogyakarta, Bandung, Solo e Jakarta.

Era 1 da tarde do dia 11 quando o comboio partia em Direcção a Jakarta. Éramos mais de 50 estudantes. Apanhamos a classe económica. O comboio estava cheíssimo e algúns de nós ficavam em pé durante a viagem.

Os responsáveis da acção pediam-nos a nós para que durante a viagem não falássemos em Tetum e que se alguem nos perguntasse, dizia apenas que íamos fazer um jogo amigável em Jakarta. Mas com o cansaço quebramos a regra... contávamos anedotas, histórias e rimos muito daquela viagem.

Reparamos que no comboio havia militares armados, havia bufos...

Depois de passar Yogyakarta, adormeci.

Dia 12 de Novembro de 1994

Os por menores engraçados de como iludimos a segurança.
Os responsáveis da acção tinham lançado boatos de que os estudantes timorenses iriam fazer manifestação no dia 15 de Novembro em Bogor. O local escolhido para a abertura da II Cimeira de APEC na Indonésia. Não deram conta de que sexta-feira, 12 Novembro era a comemoração do 3º aniversário do trágico acontecimento em Stª. Cruz.

Antes de chegar a Yogyakarta alguns estudantes tinham ideia de desistir do percurso e quando o comboio chegar a cidade de Bandung sairiam. No entanto com calor e cansaço da viagem, adormeceram. Quando abriram os olhos o comboio já estava a entrar na cidade de Jakarta. Era dia 12 de Novembro... Quando o bomboio seguia o seu percurso para a estação de Pasar Senen onde nós saíriamos, pus-me a pensar, exactamente este dia três anos antes assistia os meus colegas tombados no cimetério de Stª Cruz em nome de liberdade e a independência. Como recordação daquele dia trágica para os meus colegas levavam comigo as marcas de estilaços. Com a mesma fé e determinação não vamos deixar que este dia morra e que a acção que estava para acontecer seja levada em sucesso.

O comboio parou na Estação Pasar Senen. Eram 7 e pouco de manha da sexta-fiera do dia 12 de Novembro. Saíamos de comboio dois a dois em diferentes caruagens. De lá seguimos para a estação de camioneta que fica noutro lado da rua. Tínhamos que apanhar o autocarro nº. 96 (Se não estou em erro) com percurso pela Monas (Monumento Nacional) onde situa a embaixada norte americana.

Ao sair do comboio alguns colegas foram presos. Gerou certo medo e ansiedade e a preocupação era como saía de lá. E muitos de nós nem se quer conheciam a cidade de Jakarta. A preocupação era chegar a estação de autocarro. Um grupo pequeno conseguiram apanhar o autocarro com passagem por Monas e saímos em frente da residência do vice-presidente, que era Try Sutrisno. Já estavamos desanimados...Caminhamos de um lado para outro no jardim de Monas a procura de solução. Eu quis desistir e não tinha dinheiro suficiente para a viagem de regresso. Para além disso o clima de segurança não estava favorável.

Estavamos sentados ao pé de Monas, mais de 20 pessoas, quando companheiro Saky pediu-nos a nós para apanhar taxi. Apanhámos 5 ou 6 taxis com destino a embaixada que fica apenas 800 metros. Damos volta a embaixada uma vez para apanhar outros colegas que estavam perdidos na quarteirão atrás da embaixada. Com mais dois taxis seguimos em fila de 6 a 7 taxis para embaixada. Mal taxi parou gritamos as palavras de ordens e alguns começaram saltar o grade de embaixada. Em questão segundos já estávamos dentro da embaixada. Ocupamos um círculo muito pequeno na garagem da embaixada. Depois de passar a fase confusão... contamos e erámos apenas 28. Uma hora depois, com todo perimetro de segurança montada um colega nosso conseguiu saltar a grade com ajuda dos jornalistas. Passamos a ser 29.

A primeira fase de operação estava feita.

2 comentários:

OUVINDO O SILENCIO disse...

Zito Soares,
Li com muita emoção as tuas memorias da ocupação da embaixada americana através dos links que a HE gentilmente colocou no fórum. Relato simples e desprendido de uma acção de vulto, decisiva na nossa luta pela libertação de Timor.
Devo antes de mais dizer-te que não eh meu costume comentar quaisquer postings nos variadíssimos blogs que se dedicam a questões de Timor. São muitos mas leio-os quase todos, muito embora o faca em diagonal, na maioria dos casos. Em consciência não poderia manter essa postura face as tuas memorias. Como disse, um relato simples e desprendido de uma acção de vulto e decisiva na nossa luta. Coordenava eu na altura a Frente Diplomática da Resistência e bem me lembro quão difícil foi nessa altura manter viva e dar continuidade as acções despoletadas pelo massacre do 12 de Novembro. A vossa heróica acção trouxe um novo crepitar na chama da luta que ameaçava perder intensidade. Foi uma acção valorosa, direi mesmo heróica , de um punhado de jovens em terras hostis que nos permitiu demonstrar uma vez mais a determinação do povo timorense em conquistar a sua libertação . Uma acção de imensurável dimensão , de coragem, de determinação e destemor frente a todos os perigos, incluindo a vossa própria morte. Um punhado de jovens, sem dinheiro, sem protecção mas destemidos, oferendo a vida pela libertação do seu povo. Que nobreza de espírito e que grandeza de alma. A tua escrita demonstra exactamente isso e essa eh a razao porque não poderia deixar de te oferecer esta simples homenagem, para ti e para os teus colegas. Jovens que tudo deram e nada pedem em retribuição . Obrigado por relembrar esses não muito longínquos dias, mas que muitos parecem ter-se já esquecido. A realidade dos dias de hoje eh bem diferente desses dias em que todos, todos irmanados pelo mesmo ideal da libertação nacional nos dávamos as mãos , sem preconceitos de qualquer espécie , sem atendermos as diferentes persuasões politicas, confissões religiosas ou estatuto social. Os timorenses, lado a lado com a solidariedade internacional, em busca do cumprimento do mais básico direito do Homem, ser livre e senhor do seu destino. Que fenómeno de solidariedade humana, sem precedentes e impar na historia do mundo. Os teus artigos transportam-me a esses tempos, para que não nos esqueçamos dos nossos jovens de ontem, homens do presente e heróis de sempre.Bem haja e que Deus vos abençoe. Eu jamais vos esquecerei.
Joao Viegas Carrascalao

LenaLorosae disse...

Parabéns Renetil, pelo recente aniversário e também pelo papel que desempenharam e ainda desempenham na Luta de Timor pela libertação e independência.
Obrigada, Zito, por este relato tão emocionante e que nos traz à memória a dureza desses tempos e a coragem de 29 jovens que levaram a questão de Timor novamente à cena internacional.
Helena Espadinha